terça-feira, julho 3

Conto:Rumpelstichen

(Irmãos Grimm)
 Era uma vez um moleiro muito pobre,que tinha uma filha linda. Um dia ele se encontrou com o rei e,para se dar importância,disse que sua filha sabia fiar palha ,transformando-a em ouro.
-Esta é uma habilidade que me encanta-disse o rei.-Se é verdade o que diz, traga sua filha amanhã cedo ao castelo.Eu quero pô-la à prova.
 No dia seguinte, quando a moça chegou, o rei levou-a para um quartinho cheio de palha, entregou-lhe uma roca e algumas bobinas e disse:
-Agora,ponha-se a trabalhar. Se até amanhã cedo não tiver fiado toda esta palha em ouro, você morrerá!-Depois saiu,trancou a porta e deixou a filha do moleiro sozinha.
 A pobre moça sentou-se num canto e, por muito tempo,ficou pensando no que fazer.Não tinha a menor ideia de como fiar palha em ouro e não via jeito de escapar da morte.O pavor tomou conta da jovem, que começou a chorar desesperadamente.De repente,a porta se abriu e entrou um anãozinho muito esquisito,
-Boa tarde,minha linda menina!-disse ele.-Por que chora tanto?
-Ah!-respondeu a moça entre soluços.-O rei me mandou fiar toda essa palha em ouro.Não sei como fazer isso!
-E se eu fiar para você? O que me dará em troca?
-Dou-lhe o meu colar.
 O anãozinho pegou o colar,sentou-se diante da roca e zum-zum-zum: girou-a três vezes e a bobina ficou cheia de ouro.Então começou de novo,girou a roca três vezes e a bobina ficou cheia de ouro também.Varou a noite trabalhando assim e,quando acabou de fiar toda a palha e as bobinas ficaram cheias de ouro,sumiu.
 No dia seguinte,mal o sol pareceu,o rei chegou e arregalou os olhos,assombrado e feliz ao ver todo aquele ouro.Contudo,seu ambicioso coração não se satisfez.
 Levou a filha do moleiro para outro quarto um pouco maior,também cheio de palha,e ordenou-lhe que enchesse as bobinas de ouro,caso quisesse continuar viva.
 A pobre moça ficou sentada olhando a palha,sem saber o que fazer.''Ah..se o anãozinho voltasse...'',pensou,querendo chorar.Nesse instante a porta se abriu e ele entrou.
-O que você me dá,se eu fiar a palha?-perguntou.
-Dou-lhe meu anel.
 Ele pegou o anel e se pôs a trabalha.A cada três voltas da roca,uma bobina se enchia de ouro.
 No outro dia,quando o rei chegou e viu as bobinas reluzindo de ouro,ficou mais radiante.Mas ainda dessa vez não se contentou.Levou a moça para outro quarto ainda maior,também cheio de palha,e disse:
-Você vai fiar esta noite.Se puder repetir essa maravilha,quero que seja minha esposa.
 O rei saiu,pensando:"Será que ela é mesmo filha do meleiro?Bah!O que importa é que vou me casar com a mulher mais rica do mundo".
 Quando a moça ficou sozinha,o anãozinho apareceu pela terceira vez e perguntou:
-O que você me dá,se ainda dessa vez eu fiar a palha?
-Eu não tenho mais nada...
-Se é assim,prometa que dará seu primeiro filho,se você se tornar rainha.
 "Isso nunca vai acontecer",pensou a filha do meleiro.E, não tendo saída,prometeu as anãozinho o que ele quis.Imediatamente ele se pôs a trabalhar,girando a roca a noite inteira.
  De manhãzinha,quando o rei entrou no quarto,encontrou prontinho o que havia exigido.Cumprindo sua palavra,casou-se com a bela filha do moleiro,que assim se torno rainha.
 Um ano depois,ela deu à luz uma linda criança.Já nem se lembrava mais do misterioso anãozinho.Mas daquele mesmo dia,a porta se abriu repentinamente e ele entrou.
-Vim buscar o que você me prometeu-disse.
 A rainha ficou apavorada e ofereceu-lhe todas as riquezas do reino,se ele a deixasse ficar com a criança.Mas ele não quis.
-Não!Uma coisa viva vale muito mais pra mim que todos os tesouros do mundo!
 A rainha ficou desesperada;tanto chorou e se lamentou que o anãozinho acabou ficando com pena.
-Está bem-disse.-Vou lhe dar três dias.Se no fim desse prazo você adivinhar o meu nome,poderá ficar com a criança.
 A rainha passou a noite lembrando os nomes que conhecia e mandou um mensageiro percorrer o reino em busca de novos nomes.
 Na manhã seguinte,quando o anãozinho chegou,ela foi dizendo:
-Gaspar,Melquior,Baltazar-e assim continuou,falando todos os nomes anotados.Mas a cada um deles o anão respondia balançando a cabeça:
-Não é esse meu nome!
 No segundo dia,a rainha pediu às pessoas da vizinhança que lhe esse seus apelidos,e fez uma lista dos nomes mais esquisitos,como:João das Lonjuras,Carabelassim,Pernil-mal-assado e outros.Mas a todos a resposta do anão era a mesma:
-Não é esse meu nome!
 no terceiro dia,o mensageiro que andava pelo reino à cata de novos nomes voltou e disse:
-Não descobri um só nome novo.Mas eu estava andando por um bosque no alto de um  monte,onde raposas e coelhos dizem boa-noite uns aos outros,quando vi uma cabana.Diante da porta ardia uma fogueirinha e um anão muito esquisito,pulando num pé só ao redor do fogo,cantava:
-Hoje eu frito! Amanhã eu cozinho!
 Depois de amanhã será meu o filho da rainha!
 Coisa boa é ninguém saber
 Que meu nome é
 Rumpelstichen!
 Pode-se imaginar a alegria da rainha,quando ouviu esse nome.E quando um pouco mais tarde o anãozinho veio e perguntou:
-Então,senhora rainha,qual é meu nome?
Ela disse antes:
-Será Fulano?
-Não!
-Será Beltrano?
-Não!
-Será por acaso Rumpelstichen?
-Foi o diabo que te contou!-gritou o anãozinho furioso.
 E bateu o pé direito com tanta força no chão que afundou até a virilha.
 Depois,tentando tirar o pé do buraco,agarrou com ambas as mãos o pé esquerdo e puxou-o para cima com tal violência que seu corpo se rasgou em dois.Então,desapareceu.

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